Alô. Tem alguém aí? Que medo… O Natal passou? Já acabou o martírio?
Neste Natal, adotei a postura do confinamento. Desliguei o celular, deixei o telefone de casa fora do gancho e me escondi embaixo das minhas cobertas. Tentei alguns exercícios de meditação pra esquecer que era Natal. E pra não correr o risco de ser contaminado pelo espírito natalino, tirei a televisão da tomada.
Em alguns momentos, senti fome. Minha prezada esposa levou comida pra mim na cama. Com muito medo, me descobri um pouco e peguei a bandeja para me servir. Para ir ao banheiro, fui enrolado nas cobertas, tentando não olhar para a janela para não ver nada que remeta a essa época do ano e tentando não ouvir nada para não escutar canções natalinas, fogos de artifício ou pessoas se cumprimentando.
Mas eis que chegou a parte mais difícil. A noite do Natal, a hora da ceia, a virada da meia-noite. Mas essa foi fácil pra mim. Algumas horas antes, me entupi de remédios pra dormir e passei a virada do natal completamente apagado. Teto-preto. Dormi tão pesado que não cheguei nem a sonhar. Ainda bem. Já pensou se tenho sonhos natalinos? Que pesadelo.
Na quinta-feira, dia 25, mantive meu confinamento. Me senti um bicho do mato entocado, com medo do mundo do lado de fora. Já chegaram a me dizer que eu preciso de tratamento, de um psicólogo, essas besteiras. Se você me disser isso também, quem vai precisar de tratamento será você, pois o encontro da minha bengala com a sua cabeça lhe trará hematomas sérios. Eu sei que não preciso de tratamento. Sou uma pessoa normal. Apenas não gosto do Natal. E sou, assim, um pouco rabugento. E, com muito orgulho, um anti-social.